"Existem fundamentos razoáveis para crer que agentes químicos foram usados como armas", assinalou o último relatório da comissão, publicado nesta terça-feira, o qual ressalta que "os agentes precisos, os sistemas de distribuição e os autores não puderam ser identificados".
Desta forma, o relatório deixa claro que, apesar das "alegações" do uso de armas químicas por partes dos dois lados em conflito, "a maioria" delas acusando as forças governamentais, "é possível que grupos armados antigovernamentais possam ter acesso e usem armas químicas".
"No entanto, não há evidência contundente que esses grupos possuam este tipo de armas ou os imprescindíveis sistemas de distribuição", diz o texto, que ressalta que "não há evidências concretas" de que os grupos rebeldes disponham delas e que as tenham utilizado.
Os membros da comissão - o brasileiro Paulo Sergio Pinheiro (presidente), a americana Karen Koning Abuzayd, a helvécia Carla del Ponte e o tailandês Vtit Muntarbhorn - consideram que, conforme a exacerbação do conflito, a possibilidade do uso de armas químicas é maior.
Neste aspecto, os analistas assinalam que o "perigo" do uso de armas químicas não está somente ligado ao governo, mas também a outros grupos "afins".
Com relação ao tipo específico de armas usadas, o relatório indica que a única maneira de identificar é analisando as mostras tomadas diretamente das vítimas ou dos lugares do ataque.
É por isso que a comissão faz uma chamada ao governo de Bashar al Assad permitir a entrada do painel de analistas designado pela ONU para investigar o uso de armas químicas e que os mesmos possam desenvolver uma pesquisa que, paradoxalmente, o regime já solicitou.
Para os quatro enviados, o uso de agentes químicos mostra que o conflito "tem alcançado novos níveis de brutalidade" e que, pela primeira vez, constataram não somente o uso destas armas, mas que várias cidades ficaram sitiadas, com milhares de cidadãos sendo forçados a se deslocar.
"As forças governamentais e as milícias filiadas sitiaram sistematicamente cidades em todo o país, apanhando civis em suas casas ao controlar a distribuição de comida, água, remédios e eletricidade", citou o relatório.
A comissão reitera que ambos os adversários cometeram crimes de guerra e crimes contra a humanidade por não evitarem que os civis fossem vítimas de deliberados ataques e por terem cometidos assassinatos, estupros e torturas, entre outras barbaridades.
No entanto, os analistas deixam claro que "os estupros e abusos cometidos pelos grupos armados não-governamentais não alcançam a intensidade dos cometidos pelo governo e por suas milícias".
Finalmente, a comissão afirmou "que a crescente disponibilidade de armas tem um custo humano" e lembrou que "as transferências de armas intensificam o risco do país, o que se traduz em mais civis mortos e feridos"
Atualmente, um terço da população síria, 6,8 milhões de pessoas, necessitam de ajuda para sobreviver, sendo que 1,6 residem como refugiados nas nações vizinhas e 4,2 sobrevivem como deslocados internos no interior do país. Segundo a apuração da ONU, em 26 meses, o conflito sírio causou a morte de mais de 80 mil pessoas.
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